Antes de mais nada, é importante considerar os fatores limitantes para a corrente num motor. Num motor, o torque aumenta com a corrente, porém, a corrente elevada produz aquecimento nos enrolamentos, devido à resistência elétrica intrínseca da fiação. O aquecimento quando elevado, danifica o verniz isolante dos fios, podendo ocasionar curto circuitos.
O torque de fato aumenta com o produto N.I, número de espiras e a corrente circulante.
A corrente elevada também pode levar à saturação do ferro, o que significa dizer que qualquer aumento de corrente acima deste ponto não contribui com aumento de torque, apenas aquecimento na fiação e perdas e aquecimento no ferro (que forma o circuito magnético, onde circulam as linhas de campo magnético).
A partir dessas premissas, seguem as respostas:
1- existe alguma conta para descobrir a corrente certa a ser setada ?
Com enrolamentos em paralelo, o driver deverá gerar o dobro da corrente nominal. No modo série, deve ser utilizada a corrente nominal.
2- eu estava fazendo umas contas pela lei de ohm, considerando só a parte resistiva, por isso o vitor me pareceu mais coerente, existe mais alguma coisa que deva ser levada em consideração ?
A lei de Ohm não é suficiente para analisar o comportamento de motores, é necessário conhecer o funcionamento do mesmo, que varia conforme o tipo de motor (de passo, CC, indução monofásico, indução trifásico, brushless, ...). Há outras leis físicas envolvidas (Faraday, Lenz, Maxwell, ...).
A lei de Ohm pode ser aproximadamente válida em condições de baixa velocidade e em CC.
Quando se opera com altas frequências (motor de passo com rotação mais alta e com drivers do tipo chopper) a reatância indutiva se torna significativa face à resistência elétrica do enrolamento. Também surgem não linearidades devido à saturação do núcleo, magnetostricção do núcleo, .... Algumas dessas não linearidades e deformações, inclusive, fazem surgir zumbidos e chiados audíveis, mesmo que o driver opere em frequências elevadas (acima de 20 kHz).
3- procede a afirmação da kalatek sobre a ligação em série ter mais torque e menos velocidade e a em paralelo ter menos torque e mais velocidade? imaginei que aumentando a corrente também aumentasse o campo magnético e consequentemente o torque por isso essa afirmação me pareceu estranha, é isso mesmo ?
Ao ligar em série, o número de espiras dobra, o que basicamente dobra o torque. Porém, em frequências elevadas, a reatância aumenta muito (como os enrolamentos estão em série e acoplados, a indutância quadruplica), o que compromete o torque. Resultando aumento de torque apenas em baixas velocidades.
Ao ligar em paralelo, a corrente se subdivide em partes aproximadamente iguais nos dois enrolamentos (mesma quantidade de espiras em ambos), mas se mantem a densidade de corrente, o que basicamente gera o mesmo torque, em comparação à ligação com apenas um enrolamento e mesma corrente no driver.
Por isso, deve-se dobrar a corrente em relação à nominal de cada enrolamento. Isso deve ser feito com cuidado e monitorando o motor, pois pode ocorrer aquecimento excessivo, com possível dano ao motor. Em frequências elevadas, a reatância se reduz muito (como os enrolamentos estão em paralelo e acoplados, a indutância é reduzida à 1/4), resultando que o torque não caia tanto em altas velocidades.
Em alguns drivers, a baixa indutância pode fazer com que a corrente aumente rapidamente com a queima do mesmo, além disso, a resistência cai à metade. Assim, a ligação em paralelo deve ser feita com cuidado, alguns drivers podem ser mais suscetíveis à queima, a depender do circuito de controle empregado, a velocidade de comutação dos MOSFETs, ...