Quinta-feira.
Mais um encontro na masmorra do Sir Jorge se aproxima. Mais uma ótima oportunidade de rever velhos (e novos) amigos. A maioria com parafusos a menos (ou a mais) como a gente, e a minoria ainda com muito sangue no álcool.
Consigo com meu chefe (Santo Bedim) tirar o dia para preparar a criançada para o exame mais atento das lupas dos mestres depois de amanhã.
Material preparado, Bob & Smiles devidamente lustrados, limpos e perfumados. Num último exame para ver se ainda tem sujeira atrás da orelha, percebo que tem algo de podre no ar (não comi feijoada nem batata doce hoje).
Alguns Smiles estão rebeldes. Algumas entradas dos conversores A/D mostram tensões que não existem. Motim numa hora dessas? Era só o que faltava!!!
Procura aqui, analisa ali. Boa parte dos drivers mostram sinais de rebeldia infundada. Olhando com mais cuidado, passo a suspeitar do lote de DSPs. No site do fabricante tem toda a relação de erratas de cada lote. Neste (de número 510) tem algo que muito de longe possa lembrar o que está acontecendo. O sintoma (leituras erradas em algumas entradas A/D) é o mesmo. A causa, nada a ver. Ligo pro suporte da Freescale e troco um monte de idéias com o Fabio. Após algumas sugestões (interessantes, diga-se de passagem) me recomenda entrar em contato com o time de suporte mundial. Como o encontro será depois de amanhã, prefiro continuar os testes dos Smiles com saúde.
Num destes teste, vi que a alteração que foi feita no firmware para permitir a carga remota do programa (que pode ser feita pelo usuário) acabou gerando um bug no controle do motor. Além de "&^$^$#@^*", a única coisa que consigo pensar é que demonstração é assim mesmo. A gente se prepara com bastante antecipação, mas o Murphy acaba dando um jeito de puxar o tapete... Combinei com o Sir Jorge que baixaria na masmorra amanhã às 4 da tarde para montar o circo. Prefiro desmarcar a ida à masmorra amanhã depois destas notícias. Fazer o que???
Sexta-feira.
Aproveito parte da hora do almoço para pesquisar nos fóruns o que pode estar acontecendo com o conversor A/D. Vejo alguns palpites de outros problemas que podem me auxiliar a colocar ordem na bagunça.
Saio voando da Icatel para o entendimento com os Smiles. Dois pepinaços para serem resolvidos a apenas algumas horas do encontro. Normal... Prefiro assim do que passar vexame na hora do vamos ver.
Sem perder tempo, janto na frente do PC, esparramando comida prá todo lado. Se passam 1 hora, 2 horas... Achei o que está acontecendo: tive que alterar os segmentos de memória para permitir que o DSP conseguisse gravar a nova versão do firmware em cima de si próprio, e nesta alteração ficou uma lacuna. Mais 1 hora e pronto! Tudo resolvido
Será???
Como alterei os segmentos de novo, deixa verificar se o download está funcionando como deveria. A idéia é o próprio usuário do Smile, seja onde estiver, atualizar o firmware do Smile apenas rodando a nova versão do programa de configuração. Tudo tem que funcionar de primeira. A hipótese de falha na carga do programa simplesmente não pode existir. Os testes mais loucos e impossíveis são executados, sempre com sucesso. Beleza!
Enquanto a super Cida ajeitar a gravata dos Smiles saudáveis, começo uma série de alterações nas rotinas de aquisição dos sinais analógicos do conversor A/D. Uma a uma as alteração se mostram totalmente sem resultado prático. Baixo MUITO a freqüência do clock do A/D. Funciona!!! Aumento para valores mais razoáveis. Continua funcionando. Ufa!!!
Faço a alteração em outro Smile. Não funciona tão bem assim. Como não tenho como garantir que a solução vai ter conseqüências num espaço de tempo tão pequeno para testes, prefiro deixar como está e sinalizar com uma etiqueta vermelha os Smiles que não podem ser entregues.
Sábado – Dia D.
Por sorte o Daniel (meu filho) ainda está acordado para me ajudar a desconectar computadores, e levar a tranqueirada para o carro.
O dia vai raiando quando chego a São Paulo, mostrando um Sol vermelho-laranja que a todos ilumina.
Chego na masmorra bem na hora de filar um cafezinho
Sou informado que a Lady Ruth vai passar uns dias em Brasília, e o Jorge vai levá-la para o embarque. Fico sozinho na masmorra tendo o prazer de receber o pessoal do encontro. Em outras palavras, “quando o gato não está, os ratos sobem na mesa”
E não deu outra, saímos fuçando o quartinho onde Sir Jorge esconde os aparelhos de tortura da masmorra em busca das ponteiras do multímetro
Às vezes é muito bom fazer alguma coisa escondido dos donos da casa. Só espero que o Jorge não esteja lendo isso, senão vai acabar descobrindo quem fez aquela zona toda
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Tive a enorme alegria de ver que o Ronaldo levou o super CNC dele para uma apresentação da dupla Bob & Smile, e acho que nem em São Paulo ele mora. VALEU, Ronaldo!!! Achei bastante interessante o gabinete com o PC, fonte & cia dentro. Ficou um show a parte, ainda mais que a frente é de acrílico transparente :O
O pessoal foi chegando aos poucos. Uns já conhecia, outros passei a conhecer na hora. Tudo doido... Tudo doido... Sair de casa deixando o carinho das respectivas para se encontrar com um bando de doido. O que é que estou dizendo??? EU também estava lá!!!
Voltando ao assunto, tudo gente fina, profissionais sérios (alguns nem tanto assim) que tem como hobby fazer uns “brinquedinhos” de gente grande. E lá fui eu com meu brinquedinho...
É... Não tem como disfarçar... Decididamente é tudo doido...
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A garagem vai enchendo com a chegada do pessoal. Mestre Fabio chega, trazendo consigo a alegria e o vozeirão que são a suas marcas registradas. Ajuda o Ronaldo a ajustar o TurboCNC. Percebo que todos param para receber seus ensinamentos. Pelo resultado final, percebo que a máquina melhorou muito a performance. Até ficou parecendo que tinham trocado de CNC
Acabo me entendendo com o ferro de solda e o conector DB-9 para permitir que o Smile possa conversar com o super CNC com tranqüilidade. Neste momento chega o mestre Lolata, também vindo de Sorocaba.
Assim que ligamos os Smiles no CNC, reparamos que os motores estão apitando. Isso é muito comum num driver chopper, mas o Smile é super silencioso. O Lolata, que há mais de 1 mês trabalha com MDF no seu super CNC movido a Smiles, foi quem mais estranhou o assovio. Desliguei tudo e vi que tinha ligado o conector de forma errada nos Smiles.
Tudo funciona maravilhosamente bem quando tudo está ligado maravilhosamente certo. Só que o mundo é real, e a possibilidade de ligação errada sempre existe. Foi pensando exatamente nisso (e alertado diversas vezes pelos mestres nos encontros anteriores) que fizemos bastante força para que o Smile ficasse o mais robusto possível, tentando deixá-lo a prova deste tipo de erros que todos cometemos.
Conexões corrigidas, ligamos as fontes novamente. Apenas silêncio dos motores. Agora, sim, é o Smile que conheço
Mestre Fabio toma conta do Turbo CNC novamente, checando com sua vasta experiência o funcionamento do CNC. Após esta primeira parte da apresentação, resolvemos fazer uma melhoria na fonte. Pegamos um inversor 110V <-> 220V e fizemos uma fonte de 75V. Na verdade quem fez o trabalho pesado foi o Sergio Costa.
Ligamos a nova fonte para a segunda parte da apresentação. Mestre Fabio percebeu que o Smile ficou bem mais à vontade. O carro com motor trifásico e inversor (um show a parte) pesava uns 4Kg, e foi levado a um lado a outro do CNC movido por um motor de apenas 2,4A (creio que de uns 7 Kgf.cm), com aceleração que permitia que chegasse à velocidade máxima em apenas 0,5s. O fuso tinha passo de 5,08mm, permitindo uma resolução de 0,0127 mm.
Resultado da apresentação: este carro, com 4Kg, acelerando de 0 a velocidade máxima em 0,5s, com resolução de 1,27 centésimos de mm se movia a 11,4 m/min :O Se levarmos em conta que o motor é de uns 7kgf.cm, estes valores dão o que pensar...
Claro, foi apenas uma apresentação. Na prática a velocidade deve ser 30% menor do que a máxima.
Mais tarde, foi feito uma nova apresentação do super CNC, agora fresando uma peça de alumínio, novamente causando uma boa impressão aos colegas. Após diversos trabalhos terem sido realizados, muitos quiseram conferir a temperatura nos transistores, sempre gelados. Mesmo os transistores dos Smiles no super CNC do Lolata, que tem motores de 3A e 4A, ficam gelados após um dia inteiro de trabalho.
No fim do dia, tive novamente a honra de fazer uma explanação dos recursos da dupla Bob & Smile, sempre questionado sobre este ou aquele ponto. Como das outras vezes, novas observações foram feitas e novas idéias surgiram. Um dos pontos fortes do Smile é o fato de que ele é movido à programação. Tudo é possível, a imaginação é o limite. Tenho a grande sorte de ser cercado por pessoas que sempre quiseram testar esta ou aquela idéia num driver, mas até agora não tinham como fazê-lo. Uma destas idéias é a configuração do Smile ser feita totalmente através de programa executado num PC.
Na parte final da explanação, rodamos o programa de configuração, que imediatamente detectou os 3 Smiles ligados ao PC através da Bob. Se isso não bastasse, nenhum cabo foi desconectado nem substituído para isso. Simplesmente saímos do TurboCNC e rodamos o programa de configuração e pronto.
Sempre tivemos esta preocupação: O usuário não tem a menor obrigação de entender de eletrônica. Para muitos, ajustar a corrente através de trimpot usando um multímetro ou colocando um jumper para mudar para meio passo é algo bastante complicado, da mesma forma que arrepio quando se trata de mecânica. Os equipamentos tem que ser feitos o mais simples e robustos possível. Da mesma forma que inverti os fios da alimentação dos motores meses atrás e hoje conectei os motores de forma errada, diversos usuários acabarão fazendo o mesmo. O mínimo que o Smile tem a obrigação de fazer é sair ileso. Sem contar o ajuste de corrente via trimpot. É muito fácil se enganar no ajuste e destruir um motor. Da mesma forma, o mínimo que o Smile tem que fazer é garantir que a corrente que o usuário deseja seja entregue ao motor, sem risco algum. Afinal de contas, quem quer perder um motor num simples ajuste de trimpot, tendo conhecimento ou não de eletrônica? Nosso bolso não tem este luxo.
Após a explanação, praticamente todo mundo foi embora. Tadinhos... não deve ter sido fácil me ouvir por tanto tempo
No final da noite, e após uma bela pizza, monsieur Alain me deu algumas aulas sobre alguns pontos críticos do Smile. Me fez entender algumas características estranhas de um motor de passo e seu efeito no seu controle, como as capacitâncias existentes entre as espiras do enrolamento, por exemplo. E tome teoria até às 2 e meia da manhã
Nem precisa dizer que dormi como um anjinho, graças à gentileza do Sir Jorge, que me deixou hibernar ali. Seria muito arriscado pegar a estrada com o bagaço que estava.
Resumo do dia: acho que todos gostaram da apresentação, graças à Deus
Ah! Aproveitei e entreguei pessoalmente mais alguns Bobs & Smiles pessoalmente, já anotando outras encomendas
Domingo.
Acordei com ressaca. Explicando melhor, com o lado inesquecível da bebida, sendo que não cheguei a tomar nada de cerveja. Nem este gostinho tive. Mas o cabo de guarda-chuva estava ali para me desmentir.
Conversei longamente com Sir Jorge sobre diversos assuntos, e um dos que mais me fez abrir os olhos foi um alerta sobre velocidade de um motor de passo e sua real importância num CNC.
É muito legal ver (e ouvir) um motor zunir rápido, mas isso é apenas uma das muitas maneiras de se avaliar um CNC. O torque se torna MUITO PEQUENO conforme a velocidade de um motor aumenta, tornando-se quase desprezível a conversão do torque em trabalho se utilizarmos a velocidade máxima, seja qual for. Além desta velocidade ser irreal, exige demais da parte mecânica sem necessidade. Foi por este motivo que o Fabio verificou a velocidade máxima (11m/min) e configurou o TurboCNC para 70%. Outro ponto interessante é que esta velocidade só é utilizada para deslocamentos rápidos, que correspondem muito poço em termos de tempo da confecção da peça.
Segunda-feira.
Hoje cedo troquei umas idéias com mestre Fabio. Além de confirmar os dizeres do Jorge, foi mais além: Mesmo o deslocamento do carro em m/min pode ficar em segundo plano se a resolução do motor for maior do que o mínimo exigido pelo material ou mesmo pela folga excessiva..
Tudo depende de um conjunto de fatores, onde o fuso é um destes fatores, da mesma forma que o driver e o motor.
Abraços,
Rudolf